PM assumiu risco de matar adolescente de 16 anos ao dar coronhada em irmão, conclui inquérito
Sargento da PM Thiago Guerra teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça de SP, após a morte da adolescente. Ele já está detido. Vanessa Priscila ...
Sargento da PM Thiago Guerra teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça de SP, após a morte da adolescente. Ele já está detido. Vanessa Priscila dos Santos, mãe da adolescente Victoria Manuelly, de 16 anos, morta por um sargento da Polícia Militar, na Zona Leste de São Paulo. Reprodução/TV Globo A Polícia Civil concluiu o inquérito que apurava a morte de Victoria Manoelly dos Santos, de 16 anos, que morreu na semana passada durante uma abordagem policial na Zona Leste de São Paulo. O delegado responsável pelo caso reiterou que o sargento Thiago Guerra agiu com dolo eventual por assumir o risco de matar, ao dar uma coronhada no irmão da adolescente. Guerra teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça de SP, após a morte da adolescente. Ele já está detido. ✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp O relatório final afirma que a decisão foi tomada a partir dos "elementos de convicção apresentados no bojo do presente procedimento de Polícia Judiciária, notadamente os depoimentos dos Policiais Militares, os depoimentos das testemunhas, a declaração da vítima e, primordialmente, o vídeo da câmera de segurança do PM autor do disparo, evidenciam de maneira inequívoca os suficientes indícios de autoria e a materialidade delitiva exigida pelo tipo penal". Na noite desta segunda (13), moradores da região de Guaianases fizeram um protesto pacífico devido à morte da jovem. Os moradores colocaram fogo em pneus na Rua Capitão Pucci, onde aconteceu o crime. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Militar acompanhou a manifestação e reforçou que a PM não compactua com excessos ou desvios de conduta dentro da corporação. A mãe de Victoria Manoelly, Vanessa Priscila dos Santos, disse, na madrugada do domingo (12), que espera que o PM fique “muito e muitos anos preso” e que pague pelo que fez contra a filha dela. “Fiquei sabendo que ele está preso. Ele precisa pagar pelo que ele fez, porque não é justo a minha filha pagar por uma coisa que não fez. Pagar com a vida ainda. Mesmo que tivesse feito, ele não tinha o direito de tirar a vida de ninguém. Que ele fique muito e muitos anos [preso]. A gnete não tem mais nada. Só resta saudades e lembranças boas, e ruins também. Porque via a minha filha sangrar até a morte”, disse a mãe da jovem (veja vídeo abaixo). "Não é justo minha filha pagar com a vida por algo que não fez", diz mãe de Victoria O corpo de Victoria Manoelly foi velado no Cemitério Público de Guaianases entre a noite do sábado e a madrugada do domingo. O enterro aconteceu às 9h do domingo, diante de muita comoção de amigos, familiares e de outras mães que perderam seus filhos para a violência da Polícia Militar na periferia da Zona Leste de São Paulo. Reunidas no grupo “Mães da Zona Leste”, elas foram prestar solidariedade à mãe de Victória no Cemitério do Lageado. Durante a madrugada, Vanessa Priscila chorou ao lembrar da filha ainda viva e da saudade que sentirá da jovem. Tiro que matou jovem de 16 anos saiu de arma de PM “Ainda não tive coragem de vê-la. Estou aqui o tempo todo, mas ainda não consegui ver a minha filha no caixão. Nem sei se vou conseguir, na verdade.” “Era uma menina superalegre, divertida. Ainda não pensei sobre tudo isso. Não raciocinei sobre. Nem acreditar estou conseguindo. Está difícil. Ela era muito divertida, gostava muito de brincar. Vaidosa, bastante vaidosa. Gostava bastante de maquiagem e essas coisas...”, disse. O crime Jovem de 16 anos morre baleada em SP; família diz que tiro partiu de PM durante abordagem TV Globo/Reprodução Segundo as testemunhas, Victoria e o irmão Kauê, de 22 anos, estavam com a mãe e alguns amigos em frente a um bar, na rua Capitão Pucci, em Guaianases, quando um rapaz passou correndo fugindo de alguns policiais que haviam sido acionados para uma ocorrência de roubo. Em seu depoimento, Kauê contou que um dos policiais voltou e começou a questioná-lo e a irmã. Durante a discussão, o PM o agarrou pela gola da camiseta, apontou a arma para o seu rosto e acertou uma coronhada na sua cabeça. A arma disparou e acertou Victoria. Victoria Manoelly dos Santos, de 16 anos, que morreu na madrugada de sexta-feira (10) é velada no Cemitério do Lageado, em Guaianases. Reprodução/TV Globo Já o PM disse que, ao abordar os dois irmãos, Kauê estava com as mãos na região da cintura e que o rapaz deu um tapa na sua mão para tentar se esquivar. Nesse momento, segundo o policial, sua arma disparou e atingiu a região próxima ao ombro da adolescente. A mãe dos dois, que estava ali na hora, disse que o filho dizia ao policial não ter relação com a suspeita de roubo. "Só ouvi o tiro, e minha filha jorrando sangue", contou Vanessa Priscila dos Santos. Segundo ela, houve demora para socorrer a filha. "Foi muito feio, foi a pior coisa da minha vida, jorrou sangue, e eles [PMs] não levaram, não a socorreram. Pedi pelo amor de Deus. Ajoelhei ao pé do policial pra ele socorrer minha filha. Eles não socorreram. Eles estavam preocupados em colocar meu filho dentro da viatura". Victoria chegou a ser levada para o Hospital Geral de Guaianases, mas não resistiu ao ferimento. Família de Victoria Manoelly dos Santos, de 16 anos, no velório da jovem no Cemitério do Lageado, em Guaianases. Reprodução/TV Globo O irmão de Victoria soube da perda da irmã quando foi levado à delegacia pela PM e, ao ouvir da mãe que a jovem havia morrido, desabou no chão em desespero, chorando muito. Desolada, Vanessa estava inconformada com a situação. "Meu filho não deve nada para a Justiça, não deve nada. Só que tem passagem, né? O erro dele. Tudo isso. Queria tanto que esse tiro fosse em mim, como eu queria, Senhor!" Depois de prestar depoimento como testemunha, Kauê foi liberado. O que diz a Secretaria da Segurança Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública lamentou a morte da jovem e disse que "investiga todas as circunstâncias da ocorrência, ainda em andamento. O policial militar foi preso em flagrante e conduzido ao 50º DP onde o caso foi registrado. A Polícia Civil busca imagens que possam esclarecer os fatos". E acrescentou: "A Polícia Militar não compactua com excessos ou desvios de conduta e pune exemplarmente aqueles que desobedecem aos protocolos estabelecidos pela Corporação. A arma do policial foi recolhida e as imagens das Câmeras Corporais estão sendo analisadas. Um Inquérito Policial Militar será aberto para investigar os fatos". O caso está sendo registrado no 50º Distrito Policial, no Itaim Paulista. O irmão da vítima permanece detido na delegacia, mas a polícia não foi informado o motivo da prisão.